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sábado, 8 de agosto de 2009

Quem não tenha passado uma situação assim, que jogue a primeira pedra!

Grande Edgar!!!

Já deve ter acontecido com você.

- Não está se lembrando de mim?

Você não está se lembrando dele. Procura, freneticamente, em todas as fichas armazenadas na memória o rosto dele e o nome correspondente, e não encontra. E não há tempo para procurar no arquivo desativado. Ele está ali, na sua frente, sorrindo, os olhos iluminados, antecipando a sua resposta. Lembra ou não lembra? Neste ponto, você tem uma escolha. Há três caminhos a seguir. Um, o curto, grosso e sincero.

- Não.

Você não está se lembrando dele e não tem por que esconder isso. O “Não” seco pode até insinuar uma reprimenda à sua pergunta. Não se faz uma pergunta assim, potencialmente embaraçosa, a ninguém, meu caro. Pelo menos não entre pessoas educadas. Você deveria ter vergonha. Não me lembro de você e mesmo que lembrasse não diria. Passe bem.

Outro caminho, menos honesto mas igualmente razoável, é o da dissimulação.

- Não me diga. Você é o… o…

“Não me diga”, no caso, quer dizer “Me diga, me diga”. Você conta com a piedade dele e sabe que cedo ou tarde ele se identificará, para acabar com a sua agonia. Ou você pode dizer algo como:

- Desculpe, deve ser a velhice, mas…

Este também é um apelo à piedade. Significa “Não torture um pobre desmemoriado, diga logo quem você é!” É uma maneira simpática de dizer que você não tem a menor idéia de quem ele é, mas que isso não se deve à insignificância dele e sim a uma deficiência de neurônios sua.

E há o terceiro caminho. O menos racional e recomendável. O que leva à tragédia e à ruína. E o que, naturalmente, você escolhe.

- Claro que estou me lembrando de você!

Você não quer magoá-lo, é isso. Há provas estatísticas que o desejo de não magoar os outros está na origem da maioria dos desastres sociais, mas você não quer que ele pense que passou pela sua vida sem deixar um vestígio sequer. E, mesmo, depois de dizer a frase não há como recuar. Você pulou no abismo. Seja o que Deus quiser. Você ainda arremata:

- Há quanto tempo!

Agora tudo dependerá da reação dele. Se for um calhorda, ele o desafiará.

- Então me diga quem eu sou.

Neste caso você não tem outra saída senão simular um ataque cardíaco e esperar, falsamente desacordado, que a ambulância venha salvá-lo. Mas ele pode ser misericordioso e dizer apenas:

- Pois é.

Ou:

- Bota tempo nisso.

Você ganhou tempo para pesquisar melhor a memória. Quem é esse cara, meu Deus? Enquanto resgata caixotes com fichas antigas do meio da poeira e das teias de aranha do fundo do cérebro, o mantém à distância com frases neutras como “jabs” verbais.

- Como cê tem passado?

- Bem, bem.

- Parece mentira.

- Puxa. (Um colega da escola. Do serviço militar. Será um parente? Quem é esse cara, meu Deus?)

Ele está falando:

- Pensei que você não fosse me reconhecer…

- O que é isso?!

- Não, porque a gente às vezes se decepciona com as pessoas.

- Eu esquecer você? Logo você?

- As pessoas mudam. Sei lá.

- Que idéia! (É o Ademar! não. o Ademar já morreu. Você foi ao enterro dele. O… o… como era o nome dele? Tinha uma perna mecânica? Você pode chutá-lo amigavelmente. E se chutar a perna boa? Chuta as duas. “Que bom encontrar você!” e paf, chuta uma perna. “Que saudade!” e paf, chuta a outra. Quem é esse cara?)

- É incrível como a gente perde contato.

- É mesmo.

Uma tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso.

- Cê tem visto alguém da velha turma?

- Só o Pontes.

- Velho Pontes! (Pontes. Você conhece algum Pontes? Pelo menos agora tem um nome com o qual trabalhar. Uma segunda ficha para localizar no sótão. Pontes, Pontes…)

- Lembra do Croarê?

- Claro!

- Esse eu também encontro, às vezes, no tiro ao alvo.

- Velho Croarê! (Croarê. Tiro ao alvo. Você não conhece nenhum Croarê e nunca fez tiro ao alvo. É inútil. As pistas não estão ajudando. Você decide esquecer toda a cautela e partir para um lance decisivo. Um lance de desespero. O último, antes de apelar para o enfarte.)

- Rezende…

- Quem?

Não é ele. Pelo menos isto está esclarecido.

- Não tinha um Rezende na turma?

- Não me lembro.

- Devo estar confundindo.

Silêncio. Você sente que está prestes a ser desmascarado.

Ele fala:

- Sabe que a Ritinha casou?

- Não!

- Casou.

- Com quem?

- Acho que você não conheceu. O Bituca.

Você abandonou todos os escrúpulos. Ao diabo com a cautela. Já que o vexame é inevitável, que ele seja total, arrasador. Você está tomado por uma espécie de euforia terminal. De delírio do abismo. Como que não conhece o Bituca?

- Claro que conheci! Velho Bituca…

- Pois casaram.

É a sua chance. É a saída. Você passa ao ataque.

- E Não me avisaram nada?!

- Bem…

- Não. Espera um pouquinho. Todas essas coisas acontecendo, a Ritinha casando com o Bituca, o Croarê dando tiro, e ninguém me avisa nada?!

- É que a gente perdeu contato e…

- Mas o meu nome está na lista, meu querido. Era só dar um telefonema. Mandar um convite.

- É…

- E você ainda achava que eu não ia reconhecer você. Vocês é que esqueceram de mim!

- Desculpe, Edgar. É que…

- Não desculpo não. Você tem razão. As pessoas mudam… (Edgar. Ele chamou você de Edgar. Você não se chama Edgar. Ele confundiu você com outro. Ele também não tem a mínima idéia de quem você é. O melhor é acabar logo com isso. Aproveitar que ele está na defensiva. Olhar o relógio e fazer cara de “Já?!”)

- Tenho que ir. Olha, foi bom ver você, viu?

- Certo, Edgar. E desculpe, hein?

- O que é isso? Precisamos nos ver mais seguido.

- Isso.

- Reunir a velha turma.

- Certo.

- E olha, quando falar com a Ritinha e o Mutuca…

- Bituca.

- E o Bituca, diz que eu mandei um beijo. Tchau, hein?

- Tchau, Edgar!

Ao se afastar, você ainda ouve, satisfeito, ele dizer “Grande Edgar”. Mas jura que é a última vez que fará isso. Na próxima vez que alguém lhe perguntar “Você está me reconhecendo?” não dirá nem não. Sairá correndo.

Ficha Técnica:

Autor: Luis Fernando Veríssimo

Crônica tirada do livro: "As cem melhores crônicas brasileiras"

Selecção de crônicas: Joaquim Ferreira dos Santos

viernes, 19 de septiembre de 2008

O marido do doutor Pompeu

(Caricatura extraída de www.portrasdasletras.com.br)

Gente, hoy les dejo una crónica que me mandó Pat, una bahiana encantadora que, entre otras cosas, me "presentó" a Luis Fernando Veríssimo. A mí me pareció muy divertida, espero que les guste.
Para empezar el fin de semana riendo!!
Besos!

Nadie se extrañó cuando, después de 25 años de casamiento, hijos criados, la mujer del Dr. Pompeu le pidió el divorcio. Sus razones eran normales para la época: no quería ser sólo una ama de casa. Quería vivir su propia vida, estudiar psicología, tener su propia carrera. Todo bien. El escándalo, para demostrar que todavía existen prejuicios, fue cuando supieron que el Dr Pompeu en vez de otra mujer, se consiguió un marido.

_Quién diría, eh? El Pompeu..

La propia mujer fue a pedirle explicaciones.

_Pompeu, te volviste loco?

_Por qué?

_Todos éstos años, yo nunca desconfié que fueras...de esos.

_De esos que?

_Vos sabés muy bien. Un..

La mujer se calló porque en ese exacto momento llegó a casa el marido del Dr. Pompeu. Un hombre apenas un poco mas viejo que él, canoso, aire respetable. Un empresario de muy buen concepto.

_Hola- dijo el marido del Dr. Pompeu, un poco constreñido.

_ Hola- dijo Pompeu alegremente.

_ Buenas tardes- dijo seca la mujer.

El marido de Pompeu fue a tomar su baño, escuchando la promesa del Dr. Pompeu de que la cena estaría en la mesa en un momentito. Cuando la mujer iba a recomenzar a hablar, el Dr. Pompeu la detuvo con unn gesto.

_No es nada de lo que estás pensando- dijo.

_Que yo estoy pensando, no, Pompeu. Que todo el mundo está pensando.

_Nosotros tenemos un acuerdo. Yo cuido de la casa por el, superviso el trabajo de los empleados, hago las compras, hago todo para que él tenga una vida doméstica organizada y feliz. A cambio, el me sustenta. No tenemos ningún contacto sexual porque ninguno de nosotros es como vos decís, de esos.

_Pero Pompeu..

_Yo no tengo de qué quejarme. Mi padrón de vida mejoró. El me dá dinero para todo lo que necesito. Inclusive, además, para pagar su pensión. Y hoy puedo hacer lo que siempre soñé. No trabajo, no me preocupo por cuentas, con la seguridad de la familia, con todas esas cosas de hombre. Y lo mejor: cuando tengo que describir mi profesión, puedo poner "del hogar".

_Pero Pompeu!

_Y ahora me vas a disculpar, pero necesito preparar nuestra cena. Después el vé el noticiero nacional e yo espero la hora de mi novela. Que estés bien.